PROJETO
Da palavra ao conto, que encanta as pessoas e complementa a história
APRESENTAÇÃO
Esse ano, Bragança completou 400
anos de história. Uma cidade que no decorrer do tempo, aos poucos muda sua
estrutura, mas, persiste ainda em algumas crendices, apesar do avanço
tecnológico e moderno que em muitas cidades tirou do povo a fantasia nos seres
fantásticos.
Na tentativa de reviver na memória
dos alunos os contos que um dia foram presentes no dia a dia dos nossos antepassados,
decidimos desenvolver o Projeto: “Da palavra ao conto, que encanta as pessoas
e complementa a história”.
Reconhecer o valor cultural de um
povo é respeitar sua trajetória e junto com ele amadurecer crítico e
socialmente.
A escola tem uma importância muito
grande como introdutória no resgate cultural porque atua no processo de desenvolvimento
social e pedagógico proporcionando aos alunos, oportunidades de conhecer e ir
além, na descoberta de suas capacidades.
Portanto, pesquisar, conhecer e
reconhecer a cultura como fonte de riqueza regional é de extrema importância para para o alunado que tem assim a oportunidade de mostrar suas habilidades e criatividade e o professor deve proporcionar aos alunos a oportunidade de se expressar.
LIVRO
PRODUZIDO PELOS ALUNOS DAS 801 E 802 DO TURNO DA TARDE DA ESCOLA LUIZ PAULINO
MÁRTIRES. ANO 2013 E ORIENTADO PELA PROFESSORA LEILA NASCIMENTO.
Projeto que
envolveu as áreas de Língua Portuguesa e artes
Da palavra ao conto,
que encanta as pessoas e complementa a história
APRESENTAÇÃO
O projeto “Da Palavra ao Conto Que Encanta as Pessoas e Complementa a
História” teve como objetivo principal: incentivar, apoiar e acompanhar o
processo de leitura, análise e produção de textos.
Foi desenvolvido num período longo para que os alunos pudessem fazer as
atividades propostas sem pressa e com tempo de refazê-las se fosse o caso.
Pesquisas foram realizadas; leituras e reformulações foram feitas, e o
resultado se encontra aqui, nas páginas deste livro; para todos aqueles que
acreditam nos mistérios de nossa região.
Leila Nascimento
HOMENAGEM
“A todos os alunos das 8ªs que se esforçaram para desenvolver esse
projeto e fizeram nascer esse livro de histórias, saído da imaginação
adolescente que tem um mundo a conquistar. E essa é uma grande conquista, a
liberdade da criação. A descoberta da beleza da literatura e do poder das
palavras.
A CASA
ASSOMBRADA
Jamille Tayelle Lopes
Paula Daniela
A mulher andava como se não tivesse ninguém no
corredor com ela. Passou pelo meu tio atravessando a parede e desapareceu.
Daquele dia em diante ele não se levantou mais para ir
ao banheiro à noite, porque tinha certeza de que aquela casa estava mal
assombrada e a mulher deixava todos dormirem para passear no corredor.
Todos na casa achavam que meu tio era um medroso, mas,
ninguém se atrevia a levantar de madrugada para ir ao banheiro. Vai que aquela
história fosse verdade!
Gabriel Edvan Tavares Santos
Na década de 80, na cidade de Ipixuna no Pará,
aconteceu um fato muito estranho com um jovem chamado Ribamar.
Ao sair de sua casa, ao lado de uma árvore que ficava
um pouco afastada, já entrando na capoeira, apareceu um fogo que crescia e
diminuía.
Observando com mais atenção, num determinado momento,
o fogo ficava mais brando como se fosse apagar, mas, de repente, ele crescia
como uma enorme ameaça que parecia querer queimar a floresta inteira e num
outro momento desaparecia, para reaparecer em outro lugar, no meio das árvores.
“Seria assombração”? Pensou
Apavorado, Ribamar ficou mudo e estático olhando
aquele enorme clarão ardendo no meio do mato.
Com medo do fogo se espalhar, o jovem ficou observando
tudo aquilo. Depois de um momento, ele chamou sua mãe para ver o que estava
acontecendo. E quando retornou, o fogo havia desaparecido, e os dois retornaram
para sua casa com muito medo.
A parir daquele dia, ele dava às pessoas o mesmo
conselho:
“Cuidado
quando você andar pela floresta, sozinho. Pois, o fogo assombroso pode aparecer
quando menos você esperar. E olha que dizem que ele queima de verdade, mesmo
sendo uma assombração”.
Alex Felipe da Silva Santos
Paulo Henrique Barbosa dos santos
Certa noite, ele foi ao circo
assistir ao espetáculo junto com um primo e lá encontrou com uns amigos.
Assim que terminou o espetáculo, os
amigos foram embora e o primo do Carlinhos resolveu se antecipar porque estava
com uma baita dor de cabeça e foi embora com os rapazes deixando-o para trás.
Quando percebeu que teria que voltar
para casa, sozinho, Carlinhos sentiu um pouco de medo. Sempre que saiam à
noite, os moradores nunca retornavam desacompanhados para suas casas, por
receio de alguma visagem, e ele não era diferente. Não que tivesse medo, mas, é
melhor prevenir do que remediar. E todos sabiam que com visagem não se brinca.
E começou o percurso de volta. Depois de andar muito, chegou a uma parte do
bairro da aldeia perto de onde havia um beco muito escuro onde poucos se
aventuravam a entrar em horário proibido porque diziam que lá aconteciam coisas
estranhas.
Apressou o passo. Queria estar longe
dali o mais rápido possível e a escuridão do beco o fazia tremer tanto que
passou tentando não fixar os olhos em nenhum ponto para não entrar em pânico.
Assim que passou pelo beco, sentiu
um mau pressentimento; seus cabelos arrepiaram e ele teve a sensação de que
estava sendo seguido. Não teve coragem de olhar para trás. Apressou ainda mais
os passos e tentou pensar em outra coisa. Foi quando ouviu bem atrás de si um
grito estrondoso: “Lá vou eu!”.
Com o coração disparado Carlinhos ainda teve forças de
olhar para onde ouviu o grito. Foi quando ele viu. Vinha em sua direção um
bicho horrível, preto e de olhos vermelhos como se queimassem.
Ele contou que nesse momento suas
pernas tremiam tanto que pensou que não conseguiria se mexer. Mas, reuniu
forças e correu na direção da rua onde morava. De vez em quando olhava e via
desesperado aquele bicho o seguindo de longe.
Quando se aproximou de sua casa, ouviu
a visagem gritar pela segunda vez a mesma frase: “Lá vou eu”. O eco daquela voz no meio da noite deu a impressão de
que o bicho não desistiria de persegui-lo, mas, aos poucos foi se afastando até
desaparecer.
Chegou em casa gritando desesperado
para que sua mãe abrisse a porta.
Ao entrar, estava tão branco que parecia à beira de um
colapso nervoso e a mãe o colocou para dentro.
O rapaz tremia tanto, tanto que sua mãe até pensou em levá-lo
ao hospital, mas, ele gritou desesperadamente para que ela não abrisse a porta.
- Calma filho! Já passou. Eu não sei
o que aconteceu, mas, calma, tá?!
A mãe fez-lhe companhia porque ele
não parava de tremer lembrando aqueles olhos em brasa.
Passando um pouco o nervosismo, ele
começou a contar tudo o que tinha acontecido depois que saiu do circo. Enquanto
contava para seus pais, ouvi de repente um grito e disse:
- Escutem! Escutem! É o grito do
bicho.
E o bicho gritou pela última vez.
Voltando para o beco longe, longe. “Lá
vai eu”! Depois do acontecido; Carlinhos nunca mais saiu e voltou só. Saia
sempre acompanhado e passou a chegar mais cedo.
O GRITADOR
Gabriele
Rosa Sousa
Thaís Matos
dos Santos
Renata
Thaíse Gomes e Silva
Por volta de 1998 surgiram boatos
inexplicáveis de que havia algo sobrenatural em uma pequena vila de moradores
nos arredores de Bragança.
Era tempo de inverno, quando dois homens saíram para
pescar deixando suas mulheres sós.
Chegando ao lago, prepararam-se para
começar a pesca. As horas passaram e tudo corria bem até que de repente ouviram
a certa distância dali, um grito horripilante que aos poucos foi se aproximando
de onde eles estavam. As pessoas contavam que o grito era tão assustador que
quem o ouvia ficava quase surdo.
Os dois pescadores, sem saber o que
fazer, apagaram as tochas, esconderam todas as iscas e anzóis, depois se
abaixaram por entre uma touceira de mato.
O gritador aproximou-se de onde eles
estavam e gritou novamente. Olhou de um lado para o outro como se procurasse
por algo, ou alguém e desapareceu floresta adentro enquanto os dois pescadores
continuaram bem escondidos para que não fossem pegos de surpresa. E
permaneceram lá por horas com medo do bicho voltar, depois, retornaram para
casa ainda atordoados pelo que aconteceu.
Quando chegaram em casa, lá contaram
o ocorrido para os vizinhos e alguns afirmaram que talvez o gritador os tivesse
visto, mas, por alguma razão resolveu se afastar. Daí por diante, várias pessoas
que entraram na mata disseram que ouviram o gritador e todos tinham medo. Por
isso, nunca iam sozinhos à mata, porque poderiam se deparar com O GRITADOR.
Tiago de Jesus Corrêa
Meu tio morava muito longe, num sítio que ficava perto
da mata. Certa noite, ele disse que lá aconteceu um fato bastante estranho.
Estava muito escuro e um caçador seu amigo chegou em
sua casa no exato momento em que do meio da floresta fez-se ouvir latidos de um
cachorro acuando um animal que parecia bastante grande.
Olharam pela janela e imaginando que
os cachorros haviam pego uma enorme caça; correram para o local, armados de
espingarda e com uma lamparina. Porém, quando chegaram ao local, não
encontraram nada.
Na noite seguinte, por acaso, o
caçador apareceu novamente logo depois da caça na casa do meu tio e quando
começavam a conversar, ouviram os latidos do cachorro.
O caçador pegou a lamparina e sua
arma, correu para o local, enquanto meu tio carregava sua cartucheira para
acompanhá-lo. Um tiro, acompanhado de um ganir de cachorro ferido, além de um
enorme grito ecoaram pela floresta assustando a todos na casa.
Quando meu tio se aproximou do local,
ainda escutou barulho de latidos se afastando. Porém, daquele dia em diante
nunca mais viu o caçador seu amigo.
Diz
a lenda, que o cachorro do Curupira se transforma em qualquer animal para
enganar os caçadores e quando um caçador mata o animal por engano, ele se
transforma naquele bicho para ficar no lugar dele.
A LENDA DO
ATHAYDE
Géssica de
Sousa Chagas
Misselen de
Amorim
Certa vez minha vó me contou que o Athayde é um ser
negro e monstruoso que, segundo os avós dela, apareceu primeiro no município de
Vigia, depois em Viseu e agora dizem que também aparece nas comunidades
ribeirinhas da cidade de Bragança. As pessoas dessas comunidades dizem que ele
tem uns dois metros de altura, com formas parecidas com as de um homem, porém,
vive todo coberto de lama.
Quando ele anda, seu instrumento de maldade vai
balançando e deixando marcas pelo caminho.
Segundo minha avó, ele não faz mal
para aqueles que vivem nos manguezais e sim para aqueles que não respeitam a
andada, no período do acasalamento em que é proibida a retirada do caranguejo.
Para as pessoas que fazem isso, a vingança do Athayde
é brutal. Dizem que são estuprados sem piedade e é claro que nenhum pescador
assume ter sido atacado, mas o que se sabe é que isso já aconteceu com vários.
Dizem até que o Athayde é metido a
conquistador e se aproveita do fato de que tem o poder de ficar parecido com
qualquer pessoa para dormir com as mulheres dos pescadores quando estes saem
para a pesca.
O HOMEM DE
BRANCO
Samara Raquel
Andressa Napoleana
Diz a história que durante a noite,
um homem vestido de branco passeia por cima das águas de um rio que o povo de
Bragança chama de Tubo porque por lá realmente há um tubo. Ninguém sabe o que
aconteceu para essa visagem começar a aparecer ali. O fato é que aparece com
frequência, por volta da meia-noite, assustando quem a
veja.
Passando pelo rio, certa noite um
senhor que ia de bicicleta começou a sentir a garupa de seu veículo muito
pesado, como se estivesse carregando alguém. Continuou seguindo sem parar.
Depois que passou do tubo a bicicleta ficou leve novamente e o homem resolveu
olhar para trás por curiosidade, e lá, bem na beira do rio, estava alguém todo
vestido de branco, em pé, como se olhasse em sua direção.
Desesperado de medo, o senhor
pedalou com força e tentou sair o mais rápido daquele lugar.
É dessa forma que a visagem assombra
todos os ciclistas que por ali passam tarde da noite e os mais velhos dizem que
quem ousar descer da bicicleta morrerá.
Thamiris
Bianca
Resolveu então chamar para ver se
não era um caçador buscando um local para armar também o seu mutá, e chamou,
mas, ninguém respondeu. Arrependeu-se de sua atitude e resolveu ficar quieto,
esperando. Parou até de respirar e percebeu que o barulho parou.
Não saiu de onde estava. Permaneceu
imóvel para não correr o risco de ser descoberto. Foi quando ele viu aquele
vulto passar na disparada montado num porco espinho.
Era um homenzinho pequeno, não deu
para ver direito, mas ele teve certeza de que era o curupira; que sabia que ele
estava ali para caçar e queria espantá-lo para longe.
Ele sabia também que provavelmente o protetor das florestas
espantara todos os animais para que não corressem o risco de serem caçados, e
certamente voltaria sem nada para casa. Mas era teimoso. Não caçaria nada,
porém, não ia dar ao curupira o gostinho de se sentir vencedor.
Dormiria na floresta só para fazê-lo vigiar a noite toda
e apenas de manhã iria para casa. Iria de mãos abanando, mas o danado
certamente passaria aquele dia de ressaca. Deitou-se no mutá e preparou-se para
dormir sem disfarçar o sorriso maroto no rosto.
O HOMEM QUE
VIRAVA PORCO E LOBISOMEM
Thalia Maia
da Silva
Brenda Brito
Um senhor conhecido meu, contou que
há alguns anos vivia com sua família num bairro meio distante do centro de
Bragança. Eles moravam numa casa de altos e baixos. Os dois irmãos dormiam no
quarto de cima e o restante da família dormia nos quartos de baixo.
Certa noite, pedras começaram a cair
no telhado da casa e mesmo procurando o culpado, nada viram no meio da
escuridão.
Dias se passaram e a família se
mudou para o campo do Paroquial. O que eles não sabiam era que ali próximo
morava um vizinho que o povo dizia virar porco e lobisomem.
Com frequência a família se reunia
no quintal e numa determinada noite, já era bem tarde, e esquecidos do tempo,
foram despertados de sua conversa por um barulho estranho que vinha do meio das
árvores. De repente um vulto passou rápido, causando espanto e medo.
Curiosos, decidiram ir ver o que
era. Quando se aproximaram, um porco enorme de olhos vermelhos acabava de se
levantar do chão como se tivesse passado pelo processo de transformação naquele
instante.
Saíram correndo dali na direção da
casa e de repente, tão rápido como aparecera na floresta, o vulto passou na
frente deles, só que desta vez, transformado em lobisomem. Desesperados,
continuaram correndo, mas, o bicho pulou em cima de um deles, porém o outro
irmão pegou um pau e bateu forte na cabeça do bicho que caiu no chão e mesmo
assim conseguiu sair se arrasando até desaparecer no mato, enquanto a família
corria para se abrigar dentro de casa.
No outro dia, as pessoas comentavam
que um senhor fora agredido na noite anterior com uma pancada muito forte na
cabeça e havia falecido. O boato correu por todo o bairro.
Ninguém tinha a menor ideia de quem
pudesse ter matado o velho, mas, naquela mesma semana, o senhor conhecido meu se
mudou do bairro com sua família e nunca mais voltaram para aquele lugar.
O PORCO DA NOITE
Jhonatan
Cunha 802
Certa vez, fui visitar meu avô e lá, ele me contou uma
história que achei muito interessante. Contou que no sítio de um dos vizinhos,
toda noite aparecia um porco que o povo passou a chamar de porco da noite.
Certo dia, ele me convidou para visitar seu vizinho.
Curioso para saber se aquela história era verdade, aceitei. Assim que chegamos,
fomos recebidos com bastante euforia pelo dono da casa. Tivemos um jantar
espetacular. Comemos carne de porco com baião e mesmo com toda aquela
receptividade, fiquei imaginando se aquele homem poderia ser o porco da noite.
Terminado o jantar, meu avô e seu vizinho resolveram
sair para caçar e me preparei para ir junto.
Assim
que chegamos, encontramos vários animais como: coelho, tatu, cobra, preguiça,
macaco e outros.
O tempo passou rápido e logo começou a escurecer.
Lembrei de repente do porco da noite de que todos falavam e senti até calafrio
de tanto medo. E sem disfarçar o pânico disse ao meu avô:
- Vamos embora. Já tá ficando tarde! – e ele me
respondeu:
- Calma! Já estamos indo.
Depois de algum tempo, já cansado de esperar insisti:
- Vô! Posso esperar o senhor lá na casa? – e ele disse
calmamente:
- Então vá que eu também já tou indo.
E eu fui com muito medo. Chegando na metade do caminho
vi algo se mexendo no meio do mato. Era o porco. Enorme, de olhos vermelhos e
pele escura.
Não demorou para sair correndo atrás de mim como se
quisesse me devorar.
Saí em disparada ao encontro do meu avô que estava
perto dali.
Escutando aquele barulho, ele se preparou para o que
poderia acontecer. Pegou a espingarda e armou na direção em que eu vinha
correndo e gritando.
Assim que ele viu aquele bicho enorme e feio, atirou a
queima roupa, sem piedade e matou o animal.
A partir daquele dia, as pessoas passaram a olhar o
meu avô de um jeito estranho, porque segundo a lenda, a pessoa que matar o
bicho, fica com a maldição de se transformar, portanto, se o porco reaparecesse,
provavelmente seria meu avô.
Depois de alguns dias, o boato do reaparecimento do
porco causou um zumzumzum no povoado, e para que não houvesse um caça as bruxas
contra meu avô, ele teve que vir morar na cidade com os filhos. Bom. Aqui, o
porco não apareceu. Mas, como de vez em quando encontramos animais soltos pelas
ruas. Vai saber se algum deles é alguém que se transforma em bicho?! E foi só
assim que eu acreditei na história de meu avô.
A LENDA DO ARRASTADOR
Artur Wisley
Monteiro de Holanda
Há muito tempo, uma família de
maranhenses veio embora para Bragança e logo que chegaram à cidade, conseguiram
comprar uma velha casa que ficava numa esquina.
Nessa família tinha uma jovem moça
de dezessete anos que adorava sair para passear.
Quase todas as noites ela saia e às vezes esquecia-se
do tempo e acabava chegando um pouco fora do horário determinado pela mãe, que
sempre chamava sua atenção:
- Minha filha, você não pode chegar muito
tarde em casa!
- Por que mamãe? - perguntou a
menina com ar brincalhão.
- Porque minha filha, logo que
chegamos a essa cidade, os vizinhos me contaram que nessa rua, em algumas
noites, aparece um arrastador. Dizem que é a alma de um escravo que morreu
acorrentado e agora ele anda vagando, arrastando suas correntes, querendo se
vingar de qualquer um que encontrar pelo caminho. Sempre que passa da
meia-noite, quando ele passa na rua, os cachorros fazem um barulho estranho
como se estivessem apanhando. Então, minha filha. Cuidado! A partir de hoje,
não chegue mais tarde em casa. Tá bom?
A menina, rindo falou:
- É bobagem mãe! Isso não existe. – e
foi dormir.
No outro dia, quando ela se preparou
para sair, novamente a mãe lembrou-lhe do horário, mas a menina logo
retrocedeu:
- Tá, mãe!
Porém, enquanto estava na praça com
seus amigos, não percebeu o passar do tempo. Entre conversas e brincadeiras
ficou até depois da meia-noite. Quando percebeu que já era muito tarde,
praticamente saiu correndo para que a mãe não ficasse contrariada.
Assim que chegou à rua de sua casa, ela
sentiu algo estranho. O silêncio parecia ameaçador e ela sentiu medo. Apressou
o passou e nesse momento se arrependeu por não ter obedecido aos apelos da mãe.
Ainda mais porque estava sozinha. Como saber quem poderia lhe fazer mal? Ao
olhar na direção da rua, de longe ela viu uma pessoa coberta com uma manta
preta, aproximando-se lentamente. Amedrontada, correu para sua casa e quando
estava quase na frente, a vizinhança escutou um enorme grito que ecoou pelo
bairro como o presságio de uma tragédia.
Todos correram para socorrê-la, mas, no lugar de onde
presumiam vir o grito, encontraram apenas os sapatos e a bolsa que ela usava
quando saiu.
Dizem que a mãe da moça no seu
desespero tinha certeza de que ela fora levada pelo arrastador.
“CUIDADO
QUANDO VOCÊ SAIR MUITO TARDE DA NOITE. SE VOCÊ MORA PRÓXIMO À PASSAGEM JOÃO
DIOGO É EXATAMENTE A RUA POR ONDE EM ALGUMAS NOITES ATACA O ARRASTADOR”.
A VISAGEM DO
POÇO
Joelson dos
Santos Lima
Eu me lembro de uma história que
aconteceu quando eu era só uma criança. Perto da minha casa tinha um beco que
ficava frontal a um campinho escondido. Em frente a uma das casas que lá havia,
existia um poço de onde as pessoas tiravam água. Um dia, um senhor bêbado caiu
neste poço e veio a falecer. Desde então, todas às noites, escutava-se gritos
que vinham de dentro do poço e alguém puxando água.
As pessoas da vizinhança se
apavoravam quando escutavam os gritos. Ninguém se arriscava a chegar tarde em
casa. Mas, um dia, um dos moradores que estava em uma festividade, esqueceu-se
da hora. Quando retornou, já passava da meia-noite, e, aproximando-se do
campinho em direção à sua casa, ouviu um barulho que parecia de alguém puxando
água. Curioso, resolveu ver quem era. Quando lá chegou, não viu ninguém,
aproximou-se devagar, olhou dentro do poço e foi quando os vizinhos ouviram um
alto e apavorante grito.
Nunca mais esse rapaz foi visto e
nenhum outro morador se aproximou do poço durante a noite com medo da visagem.
A MISSA DOS
MORTOS
Jeferson
Thiago Mescouto
Na cidade de Bragança, há muitos
anos, existiu uma capela denominada de São João, no que conhecemos como bairro
da aldeia – um dos bairros mais antigos da cidade.
A capela foi construída por
moradores do bairro com o auxílio dos padres locais. Lá na igrejinha, os
populares frequentavam as missas, terços e ladainhas dedicadas ao padroeiro.
Com a igrejinha erguida, as
primeiras peregrinações à nossa senhora começaram a sair da capela para a
Igreja Matriz – atual Igreja São Benedito - que na época se chamava Nossa
Senhora do Rosário.
Com a morte do zelador, a igrejinha
ficou esquecida e cada vez mais diminuía o número de fiéis frequentadores.
Algum tempo depois, um senhor
chamado João começou a zelar pela capelinha. Ele cuidou até ficar velhinho e
morrer.
Durante anos a igrejinha ficou de
portas fechadas até que no bairro começaram a chegar novas famílias católicas.
Os padres acreditaram que a comunidade São João se formaria novamente, pois,
além da Matriz, era o único templo católico na região do Caeté e a população
crescia. Era uma preocupação para o bispo e padres.
A capela São João abriu suas portas
e o povo voltou a frequentá-la. O bispo enviava padres uma vez por mês e as
missas eram sempre lotadas.
Com as suas atividades normais, os
comunitários pagaram um zelador e sacristão. Era um neto do antigo zelador, Seu
João. Ele, todas as noites dormia na igreja.
Nos primeiros dias, nada ouviu de estranho, mas,
quando chegou à sexta-feira, logo depois da meia-noite, sons confusos ecoaram
dentro da igrejinha.
Assim que amanheceu o dia, ele
comunicou o ocorrido à comunidade e alguns vizinhos se ofereceram para
fazer-lhe companhia na próxima sexta-feira.
Chegado o dia, os homens se reuniram
e assim que escureceu, o grupo entrou no templo para pernoitar.
Nessa noite, eles ouviram velas caindo,
portas batendo e barulhos como se alguém mexesse em coisas na sacristia. Quando
corriam para ver, não era nada. Tudo estava no mesmo lugar. Eles ficavam
confusos e no dia seguinte comentavam com os populares.
Na terceira sexta-feira do mês, não
ouviram nada; mas, na quarta, eles decidiram dormir na sacristia para ver se
viam ou ouviam algo. Porém, acabaram dormindo.
À meia-noite, um deles ouviu vozes, depois, um clarão
dentro da igreja. Quando olhou, viu umas pessoas rezando como se estivessem numa
ladainha no centro da capela. Ele achou estranho, pois, como aquelas pessoas
tinham entrado se ele tinha a chave?
Ele chamou os colegas que foram
verificar o que estava acontecendo. Olharam pela porta da sacristia e viram
gente rezando de cabeça baixa e o padre e os coroinhas seguravam velas,
posicionados no altar da igrejinha.
Observando aquelas pessoas, de
repente os homens perceberam que os pés delas não tocavam o chão, como se
flutuassem. Concluíram então que era gente morta.
Quando olharam novamente para o
padre, pegaram o maior susto ao perceber que ele era na verdade, uma caveira; e
saíram dali gritando, apavorados.
A história ficou muito falada no
bairro, na cidade e em toda a região do Caeté.
Apenas os moradores mais antigos
sabem desse acontecimento.
A capela ficou desprezada e aos poucos se transformou
em ruínas, que o tempo fez desaparecer.
Essa história foi a minha tataravó
que frequentava a igrejinha que contou para minha bisavó que era criança e
chegou a ver a capela e por sua vez transmitiu para minha mãe que me contou e
eu escrevi.
A MULHER DE
BRANCO
Kátia Cilene
Sousa da Silva
Antigamente, quando ainda não
existia televisão, as pessoas do interior costumavam dormir cedo por causa do
cansaço do trabalho, mas, em dados momentos, quando ocorriam as festas de
santos, alguns costumavam sair e retornavam tarde para suas casas.
No percurso de volta, sempre se
lembravam da mulher de branco que aparecia pelas estradas. Dizem até hoje que
ela è muito linda e tem os cabelos longos. Aparece sempre debaixo de uma
mangueira e os antigos diziam que ela é a guardiã de um imenso tesouro.
Certo dia, numa comunidade que
também acredita na lenda da mulher de branco, um morador saiu para uma festa
que ia acontecer um pouco distante do sítio onde morava.
Antes de sair, a mãe, temerosa, lhe recomendou que não
voltasse muito tarde porque tinha medo de que o filho se deparasse com a
visagem. Mas ele sequer parou para ouvir os conselhos e saiu.
Quando chegou à
festa, encontrou-se com os amigos para uma noite de diversão. Enquanto isso, as
horas foram passando e depois da meia-noite, aos poucos os amigos do rapaz
foram saindo em respeito às recomendações de seus pais, mas, ele permaneceu até
que ficou sozinho e resolveu também pegar o rumo de volta para sua casa.
Enquanto retornava, o mistério da
noite fez com que ele se lembrasse da visagem que todos comentavam e do que a
mãe lhe recomendara.
Quando se aproximou da mangueira de
que todos falavam, um arrepio fez com que ele acelerasse as pedaladas na sua
bicicleta. Mas, um instante depois, um vulto todo vestido de branco, embaixo da
mangueira o fez titubear e quase cair.
Ficou olhando meio que paralisado enquanto a mulher
também parecia olhá-lo calma e parada no seu lugar assombroso. Não dava para
saber se era mesmo linda como diziam; o que imperou naquele momento foi o medo
que fez com que ele montasse novamente na sua bicicleta e saísse na disparada
sem olhar para trás.
Assim que chegou em casa, assustado
e trêmulo, a mãe já o esperava; preocupada e ansiosa. Ele então a abraçou e
prometeu que não iria mais sair sozinho durante a noite. Porém, quando o dia
amanheceu, o rapaz estava ardendo de febre e a mãe o levou a casa de uma
benzedeira e depois de alguns dias doente, ele ficou bom, mas, nunca se
esqueceu da experiência de ter visto a mulher de branco.
A MULHER DO
SACO
Gabriele
Rosa Sousa
Thaís Matos
dos Santos
Renata
Thaíse Gomes da Silva
Por volta de 1996, em Bragança, na
estrada do Monte Negro, Km 7, numa pequena vila chamada Igarapauca, uma criança
começou a ver uma mulher estranha e apenas ele via por volta das 12 e 18hs. Era
costume Alex vê-la todos os dias. Sua casa ficava bem em frente a um caminho
onde todos transitavam; principalmente no horário do meio-dia, em que os
trabalhadores retornavam para suas casas.
Alex tinha o costume de brincar em
frente a sua casa e passou a ver aquela mulher suja, de cabelos longos e
desgrenhados, com um saco nas mãos.
Todas às vezes que ela passava,
chamava o menino que, assustado, corria para chamar a mãe.
Maria, a mãe de Alex, assustada e
preocupada com as visões do filho, tentava distraí-lo para que não tivesse medo
e falava a ele para ficar bem longe da mulher do saco.
Passaram-se dois dias depois da
última visão e Alex adoeceu sem nenhum motivo. Cada vez mais a febre e a dor de
cabeça iam piorando e a mãe resolveu levá-lo ao hospital. Os médicos fizeram
alguns exames e não descobriram o que ele tinha.
A única coisa
que o menino pedia era para tomar água e se alimentava através de soro.
A todo o momento
dizia para sua mãe que não queria morrer, mas, depois do terceiro dia de
internação, o menino morreu por volta de uma da manhã.
Maria disse que a misteriosa mulher
apareceu apenas para levar seu filho e a partir daquele dia, todas as crianças
do vilarejo não mais tinham permissão para brincar ao meio- dia fora do espaço
de sua casa por medo de que a mulher do saco aparecesse e as chamasse também.
A VISAGEM DA
BICICLETA
Natália de
Jesus
Era dia de finados. As pessoas que moravam numa vila
afastada da Avenida principal, tinham que esperar o ônibus que passava pelo fim
da tarde, para irem ao cemitério acender velas aos seus entes queridos.
O cemitério ficava no meio da
avenida que em dias normais não era muito movimentada, porém, todos os anos,
nesse dia, o movimento era muito intenso e as pessoas que tinham seus veículos
iam rapidinho, acendiam suas velas e retornavam para casa sem nenhum problema;
mas, os moradores de bairros mais afastados que não tinham veículo,
necessitavam de transporte público para se locomover.
Na pequena vila onde aconteceu o que vou contar, a
maioria nas pessoas que lá moravam precisavam esperar o ônibus que naquele dia
já levara muita gente de um cemitério para o outro, sempre lotado.
Uns rapazes estavam perto da via
pública conversando e observando o movimento enquanto esperavam a próxima
condução, quando apareceu uma mulher montada numa bicicleta e perguntou:
- Vocês querem ir comigo?
E os meninos responderam um pouco
assustados:
- Não. Obrigado. Estamos aqui
esperando o ônibus. – e a mulher foi embora.
Logo em seguida, vem um senhor
também de bicicleta. A impressão que deu era que a mulher viera apenas um pouco
adiantada dele, o que fez com que os rapazes pedissem que o homem parasse para
perguntar se ele havia visto aquela mulher. O velho, meio assustado, perguntou
como quem não entende nada:
- Que mulher? Não tinha ninguém logo a minha frente.
Passeio todos os dias por aqui de bicicleta e nunca vi nenhuma mulher pedalando.
Até mesmo porque nessa comunidade quando as mulheres saem de bicicleta são
levadas pelos seus maridos.
Nesse momento o ônibus apareceu e rapidamente os
rapazes subiram e naquele dia, logo depois que chegaram do cemitério, foram
direto para casa sem sequer cogitar a possibilidade de parar para uma prosa na
beira da estrada como costumavam fazer.
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