domingo, 16 de fevereiro de 2014

CONTOS DE ASSOMBRAÇÃO CRIADOS PELOS ALUNOS DA ESCOLA LUIZ PAULINO MÁRTIRES

                        PROJETO
Da palavra ao conto, que encanta as pessoas e complementa a história

APRESENTAÇÃO

            Esse ano, Bragança completou 400 anos de história. Uma cidade que no decorrer do tempo, aos poucos muda sua estrutura, mas, persiste ainda em algumas crendices, apesar do avanço tecnológico e moderno que em muitas cidades tirou do povo a fantasia nos seres fantásticos.
            Na tentativa de reviver na memória dos alunos os contos que um dia foram presentes no dia a dia dos nossos antepassados, decidimos desenvolver o Projeto: Da palavra ao conto, que encanta as pessoas e complementa a história”.
            Reconhecer o valor cultural de um povo é respeitar sua trajetória e junto com ele amadurecer crítico e socialmente.
            A escola tem uma importância muito grande como introdutória no resgate cultural porque atua no processo de desenvolvimento social e pedagógico proporcionando aos alunos, oportunidades de conhecer e ir além, na descoberta de suas capacidades.
            Portanto, pesquisar, conhecer e reconhecer a cultura como fonte de riqueza regional é de extrema importância para  para o alunado que tem assim a oportunidade de mostrar suas habilidades e criatividade e o professor deve proporcionar aos alunos a oportunidade de se expressar.

LIVRO PRODUZIDO PELOS ALUNOS DAS 801 E 802 DO TURNO DA TARDE DA ESCOLA LUIZ PAULINO MÁRTIRES E ORIENTADO PELA PROFESSORA LEILA NASCIMENTO.
 
 LIVRO PRODUZIDO PELOS ALUNOS DAS 801 E 802 DO TURNO DA TARDE DA ESCOLA LUIZ PAULINO MÁRTIRES. ANO 2013 E ORIENTADO PELA PROFESSORA LEILA NASCIMENTO.





Projeto que envolveu as áreas de Língua Portuguesa e artes
 

Da palavra ao conto, que encanta as pessoas e complementa a história

APRESENTAÇÃO
O projeto “Da Palavra ao Conto Que Encanta as Pessoas e Complementa a História” teve como objetivo principal: incentivar, apoiar e acompanhar o processo de leitura, análise e produção de textos.
Foi desenvolvido num período longo para que os alunos pudessem fazer as atividades propostas sem pressa e com tempo de refazê-las se fosse o caso.
Pesquisas foram realizadas; leituras e reformulações foram feitas, e o resultado se encontra aqui, nas páginas deste livro; para todos aqueles que acreditam nos mistérios de nossa região.
Leila Nascimento

           
HOMENAGEM

  

“A todos os alunos das 8ªs que se esforçaram para desenvolver esse projeto e fizeram nascer esse livro de histórias, saído da imaginação adolescente que tem um mundo a conquistar. E essa é uma grande conquista, a liberdade da criação. A descoberta da beleza da literatura e do poder das palavras.

A CASA ASSOMBRADA
Jamille Tayelle Lopes
Paula Daniela


Numa noite, meu tio acordou e foi em direção ao banheiro. O corredor estava meio escuro, mas, acostumado a levantar-se para fazer xixi de madrugada, nada estranhou, porém, nesta noite, ele sentiu de repente os cabelos se arrepiarem e um impulso de olhar para trás. Meu tio não gritou, não desmaiou, não teve um colapso nervoso, mas, ficou completamente estático, olhando uma mulher toda vestida de branco que vinha também no corredor, logo atrás dele.
A mulher andava como se não tivesse ninguém no corredor com ela. Passou pelo meu tio atravessando a parede e desapareceu.
Daquele dia em diante ele não se levantou mais para ir ao banheiro à noite, porque tinha certeza de que aquela casa estava mal assombrada e a mulher deixava todos dormirem para passear no corredor.
Todos na casa achavam que meu tio era um medroso, mas, ninguém se atrevia a levantar de madrugada para ir ao banheiro. Vai que aquela história fosse verdade!

  
O FOGO ASSOMBROSO
Izaac Soares de Jesus
Gabriel Edvan Tavares Santos

           


Na década de 80, na cidade de Ipixuna no Pará, aconteceu um fato muito estranho com um jovem chamado Ribamar.
Ao sair de sua casa, ao lado de uma árvore que ficava um pouco afastada, já entrando na capoeira, apareceu um fogo que crescia e diminuía.
Observando com mais atenção, num determinado momento, o fogo ficava mais brando como se fosse apagar, mas, de repente, ele crescia como uma enorme ameaça que parecia querer queimar a floresta inteira e num outro momento desaparecia, para reaparecer em outro lugar, no meio das árvores. “Seria assombração”? Pensou
Apavorado, Ribamar ficou mudo e estático olhando aquele enorme clarão ardendo no meio do mato.

Com medo do fogo se espalhar, o jovem ficou observando tudo aquilo. Depois de um momento, ele chamou sua mãe para ver o que estava acontecendo. E quando retornou, o fogo havia desaparecido, e os dois retornaram para sua casa com muito medo.
A parir daquele dia, ele dava às pessoas o mesmo conselho:
“Cuidado quando você andar pela floresta, sozinho. Pois, o fogo assombroso pode aparecer quando menos você esperar. E olha que dizem que ele queima de verdade, mesmo sendo uma assombração”.


A VISAGEM DO BECO
Alex Felipe da Silva Santos
Paulo Henrique Barbosa dos santos

Na década de 70, no bairro da aldeia, morou um rapaz conhecido como Carlinhos e que foi vítima de uma história de visagem.
            Certa noite, ele foi ao circo assistir ao espetáculo junto com um primo e lá encontrou com uns amigos.
            Assim que terminou o espetáculo, os amigos foram embora e o primo do Carlinhos resolveu se antecipar porque estava com uma baita dor de cabeça e foi embora com os rapazes deixando-o para trás.
            Quando percebeu que teria que voltar para casa, sozinho, Carlinhos sentiu um pouco de medo. Sempre que saiam à noite, os moradores nunca retornavam desacompanhados para suas casas, por receio de alguma visagem, e ele não era diferente. Não que tivesse medo, mas, é melhor prevenir do que remediar. E todos sabiam que com visagem não se brinca. E começou o percurso de volta. Depois de andar muito, chegou a uma parte do bairro da aldeia perto de onde havia um beco muito escuro onde poucos se aventuravam a entrar em horário proibido porque diziam que lá aconteciam coisas estranhas.
            Apressou o passo. Queria estar longe dali o mais rápido possível e a escuridão do beco o fazia tremer tanto que passou tentando não fixar os olhos em nenhum ponto para não entrar em pânico.
            Assim que passou pelo beco, sentiu um mau pressentimento; seus cabelos arrepiaram e ele teve a sensação de que estava sendo seguido. Não teve coragem de olhar para trás. Apressou ainda mais os passos e tentou pensar em outra coisa. Foi quando ouviu bem atrás de si um grito estrondoso: “Lá vou eu!”.

Com o coração disparado Carlinhos ainda teve forças de olhar para onde ouviu o grito. Foi quando ele viu. Vinha em sua direção um bicho horrível, preto e de olhos vermelhos como se queimassem.
            Ele contou que nesse momento suas pernas tremiam tanto que pensou que não conseguiria se mexer. Mas, reuniu forças e correu na direção da rua onde morava. De vez em quando olhava e via desesperado aquele bicho o seguindo de longe.
            Quando se aproximou de sua casa, ouviu a visagem gritar pela segunda vez a mesma frase: “Lá vou eu”. O eco daquela voz no meio da noite deu a impressão de que o bicho não desistiria de persegui-lo, mas, aos poucos foi se afastando até desaparecer.
            Chegou em casa gritando desesperado para que sua mãe abrisse a porta.
Ao entrar, estava tão branco que parecia à beira de um colapso nervoso e a mãe o colocou para dentro.
O rapaz tremia tanto, tanto que sua mãe até pensou em levá-lo ao hospital, mas, ele gritou desesperadamente para que ela não abrisse a porta.
            - Calma filho! Já passou. Eu não sei o que aconteceu, mas, calma, tá?!
            A mãe fez-lhe companhia porque ele não parava de tremer lembrando aqueles olhos em brasa.
            Passando um pouco o nervosismo, ele começou a contar tudo o que tinha acontecido depois que saiu do circo. Enquanto contava para seus pais, ouvi de repente um grito e disse:
            - Escutem! Escutem! É o grito do bicho.
            E o bicho gritou pela última vez. Voltando para o beco longe, longe. “Lá vai eu”! Depois do acontecido; Carlinhos nunca mais saiu e voltou só. Saia sempre acompanhado e passou a chegar mais cedo.


O GRITADOR
Gabriele Rosa Sousa
Thaís Matos dos Santos
Renata Thaíse Gomes e Silva

            Por volta de 1998 surgiram boatos inexplicáveis de que havia algo sobrenatural em uma pequena vila de moradores nos arredores de Bragança.
Era tempo de inverno, quando dois homens saíram para pescar deixando suas mulheres sós.
            Chegando ao lago, prepararam-se para começar a pesca. As horas passaram e tudo corria bem até que de repente ouviram a certa distância dali, um grito horripilante que aos poucos foi se aproximando de onde eles estavam. As pessoas contavam que o grito era tão assustador que quem o ouvia ficava quase surdo.
            Ronaldo, um dos homens, descreveu o gritador - como o bicho era chamado - como uma coisa horrenda. Disse que tinha o corpo todo peludo, unhas enormes e que soltava fogo pela boca.
            Os dois pescadores, sem saber o que fazer, apagaram as tochas, esconderam todas as iscas e anzóis, depois se abaixaram por entre uma touceira de mato.

            O gritador aproximou-se de onde eles estavam e gritou novamente. Olhou de um lado para o outro como se procurasse por algo, ou alguém e desapareceu floresta adentro enquanto os dois pescadores continuaram bem escondidos para que não fossem pegos de surpresa. E permaneceram lá por horas com medo do bicho voltar, depois, retornaram para casa ainda atordoados pelo que aconteceu.
            Quando chegaram em casa, lá contaram o ocorrido para os vizinhos e alguns afirmaram que talvez o gritador os tivesse visto, mas, por alguma razão resolveu se afastar. Daí por diante, várias pessoas que entraram na mata disseram que ouviram o gritador e todos tinham medo. Por isso, nunca iam sozinhos à mata, porque poderiam se deparar com O GRITADOR.

O CACHORRO DA CURUPIRA
Tiago de Jesus Corrêa


Meu tio morava muito longe, num sítio que ficava perto da mata. Certa noite, ele disse que lá aconteceu um fato bastante estranho.
Estava muito escuro e um caçador seu amigo chegou em sua casa no exato momento em que do meio da floresta fez-se ouvir latidos de um cachorro acuando um animal que parecia bastante grande.
            Olharam pela janela e imaginando que os cachorros haviam pego uma enorme caça; correram para o local, armados de espingarda e com uma lamparina. Porém, quando chegaram ao local, não encontraram nada.
            Na noite seguinte, por acaso, o caçador apareceu novamente logo depois da caça na casa do meu tio e quando começavam a conversar, ouviram os latidos do cachorro.


            O caçador pegou a lamparina e sua arma, correu para o local, enquanto meu tio carregava sua cartucheira para acompanhá-lo. Um tiro, acompanhado de um ganir de cachorro ferido, além de um enorme grito ecoaram pela floresta assustando a todos na casa.
            Quando meu tio se aproximou do local, ainda escutou barulho de latidos se afastando. Porém, daquele dia em diante nunca mais viu o caçador seu amigo.
            Diz a lenda, que o cachorro do Curupira se transforma em qualquer animal para enganar os caçadores e quando um caçador mata o animal por engano, ele se transforma naquele bicho para ficar no lugar dele.

A LENDA DO ATHAYDE
Géssica de Sousa Chagas
Misselen de Amorim


Certa vez minha vó me contou que o Athayde é um ser negro e monstruoso que, segundo os avós dela, apareceu primeiro no município de Vigia, depois em Viseu e agora dizem que também aparece nas comunidades ribeirinhas da cidade de Bragança. As pessoas dessas comunidades dizem que ele tem uns dois metros de altura, com formas parecidas com as de um homem, porém, vive todo coberto de lama.
            Dizem também que ele possui os órgãos geniais fora do comum, que chega a encostar no chão.
Quando ele anda, seu instrumento de maldade vai balançando e deixando marcas pelo caminho.
            Segundo minha avó, ele não faz mal para aqueles que vivem nos manguezais e sim para aqueles que não respeitam a andada, no período do acasalamento em que é proibida a retirada do caranguejo.
Para as pessoas que fazem isso, a vingança do Athayde é brutal. Dizem que são estuprados sem piedade e é claro que nenhum pescador assume ter sido atacado, mas o que se sabe é que isso já aconteceu com vários.
            Dizem até que o Athayde é metido a conquistador e se aproveita do fato de que tem o poder de ficar parecido com qualquer pessoa para dormir com as mulheres dos pescadores quando estes saem para a pesca.

O HOMEM DE BRANCO
Samara Raquel
Andressa Napoleana


            Diz a história que durante a noite, um homem vestido de branco passeia por cima das águas de um rio que o povo de Bragança chama de Tubo porque por lá realmente há um tubo. Ninguém sabe o que aconteceu para essa visagem começar a aparecer ali. O fato é que aparece com frequência, por volta da meia-noite, assustando quem a veja.

            Passando pelo rio, certa noite um senhor que ia de bicicleta começou a sentir a garupa de seu veículo muito pesado, como se estivesse carregando alguém. Continuou seguindo sem parar. Depois que passou do tubo a bicicleta ficou leve novamente e o homem resolveu olhar para trás por curiosidade, e lá, bem na beira do rio, estava alguém todo vestido de branco, em pé, como se olhasse em sua direção.
            Desesperado de medo, o senhor pedalou com força e tentou sair o mais rápido daquele lugar.
            É dessa forma que a visagem assombra todos os ciclistas que por ali passam tarde da noite e os mais velhos dizem que quem ousar descer da bicicleta morrerá.


O CURUPIRA E SEU ZÉ
Thamiris
         Bianca

            Certa vez em um sítio um homem chamado seu Zé foi caçar. Como de costume, chegando no local onde sempre ficava, fez um mutá e sentou-se a espera de uma caça. De repente, ouviu pegadas nas folhas secas. Não podia ser ninguém conhecido porque não combinara de encontrar-se com nenhum dos amigos de caçada e aguçando mais os ouvidos percebeu que as pegadas se aproximavam cada vez mais. Hora parecia como as de um animal. Hora parecia como as de gente. E cada vez mais se aproximando, Lentas e ameaçadoras, porque a cada barulho que seu Zé escutava seu coração parecia querer sair pela boca, pois ele já percebera que talvez não fosse um animal.
            Resolveu então chamar para ver se não era um caçador buscando um local para armar também o seu mutá, e chamou, mas, ninguém respondeu. Arrependeu-se de sua atitude e resolveu ficar quieto, esperando. Parou até de respirar e percebeu que o barulho parou.
            Não saiu de onde estava. Permaneceu imóvel para não correr o risco de ser descoberto. Foi quando ele viu aquele vulto passar na disparada montado num porco espinho.
            Era um homenzinho pequeno, não deu para ver direito, mas ele teve certeza de que era o curupira; que sabia que ele estava ali para caçar e queria espantá-lo para longe.
Ele sabia também que provavelmente o protetor das florestas espantara todos os animais para que não corressem o risco de serem caçados, e certamente voltaria sem nada para casa. Mas era teimoso. Não caçaria nada, porém, não ia dar ao curupira o gostinho de se sentir vencedor.
Dormiria na floresta só para fazê-lo vigiar a noite toda e apenas de manhã iria para casa. Iria de mãos abanando, mas o danado certamente passaria aquele dia de ressaca. Deitou-se no mutá e preparou-se para dormir sem disfarçar o sorriso maroto no rosto.

O HOMEM QUE VIRAVA PORCO E LOBISOMEM
Thalia Maia da Silva
Brenda Brito

            Um senhor conhecido meu, contou que há alguns anos vivia com sua família num bairro meio distante do centro de Bragança. Eles moravam numa casa de altos e baixos. Os dois irmãos dormiam no quarto de cima e o restante da família dormia nos quartos de baixo.
            Certa noite, pedras começaram a cair no telhado da casa e mesmo procurando o culpado, nada viram no meio da escuridão.
            Dias se passaram e a família se mudou para o campo do Paroquial. O que eles não sabiam era que ali próximo morava um vizinho que o povo dizia virar porco e lobisomem.
            Com frequência a família se reunia no quintal e numa determinada noite, já era bem tarde, e esquecidos do tempo, foram despertados de sua conversa por um barulho estranho que vinha do meio das árvores. De repente um vulto passou rápido, causando espanto e medo.
            Curiosos, decidiram ir ver o que era. Quando se aproximaram, um porco enorme de olhos vermelhos acabava de se levantar do chão como se tivesse passado pelo processo de transformação naquele instante.
            Saíram correndo dali na direção da casa e de repente, tão rápido como aparecera na floresta, o vulto passou na frente deles, só que desta vez, transformado em lobisomem. Desesperados, continuaram correndo, mas, o bicho pulou em cima de um deles, porém o outro irmão pegou um pau e bateu forte na cabeça do bicho que caiu no chão e mesmo assim conseguiu sair se arrasando até desaparecer no mato, enquanto a família corria para se abrigar dentro de casa.
            No outro dia, as pessoas comentavam que um senhor fora agredido na noite anterior com uma pancada muito forte na cabeça e havia falecido. O boato correu por todo o bairro.
            Ninguém tinha a menor ideia de quem pudesse ter matado o velho, mas, naquela mesma semana, o senhor conhecido meu se mudou do bairro com sua família e nunca mais voltaram para aquele lugar.

O PORCO DA NOITE
                                  Jhonatan Cunha 802

Certa vez, fui visitar meu avô e lá, ele me contou uma história que achei muito interessante. Contou que no sítio de um dos vizinhos, toda noite aparecia um porco que o povo passou a chamar de porco da noite.
Certo dia, ele me convidou para visitar seu vizinho. Curioso para saber se aquela história era verdade, aceitei. Assim que chegamos, fomos recebidos com bastante euforia pelo dono da casa. Tivemos um jantar espetacular. Comemos carne de porco com baião e mesmo com toda aquela receptividade, fiquei imaginando se aquele homem poderia ser o porco da noite.
Terminado o jantar, meu avô e seu vizinho resolveram sair para caçar e me preparei para ir junto.
            Assim que chegamos, encontramos vários animais como: coelho, tatu, cobra, preguiça, macaco e outros.
O tempo passou rápido e logo começou a escurecer. Lembrei de repente do porco da noite de que todos falavam e senti até calafrio de tanto medo. E sem disfarçar o pânico disse ao meu avô:
- Vamos embora. Já tá ficando tarde! – e ele me respondeu:
- Calma! Já estamos indo.
Depois de algum tempo, já cansado de esperar insisti:
- Vô! Posso esperar o senhor lá na casa? – e ele disse calmamente:
- Então vá que eu também já tou indo.
E eu fui com muito medo. Chegando na metade do caminho vi algo se mexendo no meio do mato. Era o porco. Enorme, de olhos vermelhos e pele escura.
Não demorou para sair correndo atrás de mim como se quisesse me devorar.
Saí em disparada ao encontro do meu avô que estava perto dali.
Escutando aquele barulho, ele se preparou para o que poderia acontecer. Pegou a espingarda e armou na direção em que eu vinha correndo e gritando.
Assim que ele viu aquele bicho enorme e feio, atirou a queima roupa, sem piedade e matou o animal.
A partir daquele dia, as pessoas passaram a olhar o meu avô de um jeito estranho, porque segundo a lenda, a pessoa que matar o bicho, fica com a maldição de se transformar, portanto, se o porco reaparecesse, provavelmente seria meu avô.
Depois de alguns dias, o boato do reaparecimento do porco causou um zumzumzum no povoado, e para que não houvesse um caça as bruxas contra meu avô, ele teve que vir morar na cidade com os filhos. Bom. Aqui, o porco não apareceu. Mas, como de vez em quando encontramos animais soltos pelas ruas. Vai saber se algum deles é alguém que se transforma em bicho?! E foi só assim que eu acreditei na história de meu avô.


A LENDA DO ARRASTADOR

Artur Wisley Monteiro de Holanda



            Há muito tempo, uma família de maranhenses veio embora para Bragança e logo que chegaram à cidade, conseguiram comprar uma velha casa que ficava numa esquina.
            Nessa família tinha uma jovem moça de dezessete anos que adorava sair para passear.
Quase todas as noites ela saia e às vezes esquecia-se do tempo e acabava chegando um pouco fora do horário determinado pela mãe, que sempre chamava sua atenção:
            - Minha filha, você não pode chegar muito tarde em casa!
            - Por que mamãe? - perguntou a menina com ar brincalhão.
            - Porque minha filha, logo que chegamos a essa cidade, os vizinhos me contaram que nessa rua, em algumas noites, aparece um arrastador. Dizem que é a alma de um escravo que morreu acorrentado e agora ele anda vagando, arrastando suas correntes, querendo se vingar de qualquer um que encontrar pelo caminho. Sempre que passa da meia-noite, quando ele passa na rua, os cachorros fazem um barulho estranho como se estivessem apanhando. Então, minha filha. Cuidado! A partir de hoje, não chegue mais tarde em casa. Tá bom?
            A menina, rindo falou:
            - É bobagem mãe! Isso não existe. – e foi dormir.
            No outro dia, quando ela se preparou para sair, novamente a mãe lembrou-lhe do horário, mas a menina logo retrocedeu:
            - Tá, mãe!
            Porém, enquanto estava na praça com seus amigos, não percebeu o passar do tempo. Entre conversas e brincadeiras ficou até depois da meia-noite. Quando percebeu que já era muito tarde, praticamente saiu correndo para que a mãe não ficasse contrariada.
            Assim que chegou à rua de sua casa, ela sentiu algo estranho. O silêncio parecia ameaçador e ela sentiu medo. Apressou o passou e nesse momento se arrependeu por não ter obedecido aos apelos da mãe. Ainda mais porque estava sozinha. Como saber quem poderia lhe fazer mal? Ao olhar na direção da rua, de longe ela viu uma pessoa coberta com uma manta preta, aproximando-se lentamente. Amedrontada, correu para sua casa e quando estava quase na frente, a vizinhança escutou um enorme grito que ecoou pelo bairro como o presságio de uma tragédia.
Todos correram para socorrê-la, mas, no lugar de onde presumiam vir o grito, encontraram apenas os sapatos e a bolsa que ela usava quando saiu.
            Dizem que a mãe da moça no seu desespero tinha certeza de que ela fora levada pelo arrastador.

            “CUIDADO QUANDO VOCÊ SAIR MUITO TARDE DA NOITE. SE VOCÊ MORA PRÓXIMO À PASSAGEM JOÃO DIOGO É EXATAMENTE A RUA POR ONDE EM ALGUMAS NOITES ATACA O ARRASTADOR”.

A VISAGEM DO POÇO
Joelson dos Santos Lima



            Eu me lembro de uma história que aconteceu quando eu era só uma criança. Perto da minha casa tinha um beco que ficava frontal a um campinho escondido. Em frente a uma das casas que lá havia, existia um poço de onde as pessoas tiravam água. Um dia, um senhor bêbado caiu neste poço e veio a falecer. Desde então, todas às noites, escutava-se gritos que vinham de dentro do poço e alguém puxando água.
            As pessoas da vizinhança se apavoravam quando escutavam os gritos. Ninguém se arriscava a chegar tarde em casa. Mas, um dia, um dos moradores que estava em uma festividade, esqueceu-se da hora. Quando retornou, já passava da meia-noite, e, aproximando-se do campinho em direção à sua casa, ouviu um barulho que parecia de alguém puxando água. Curioso, resolveu ver quem era. Quando lá chegou, não viu ninguém, aproximou-se devagar, olhou dentro do poço e foi quando os vizinhos ouviram um alto e apavorante grito.
            Nunca mais esse rapaz foi visto e nenhum outro morador se aproximou do poço durante a noite com medo da visagem.

A MISSA DOS MORTOS
Jeferson Thiago Mescouto


            Na cidade de Bragança, há muitos anos, existiu uma capela denominada de São João, no que conhecemos como bairro da aldeia – um dos bairros mais antigos da cidade.
            A capela foi construída por moradores do bairro com o auxílio dos padres locais. Lá na igrejinha, os populares frequentavam as missas, terços e ladainhas dedicadas ao padroeiro.
            Com a igrejinha erguida, as primeiras peregrinações à nossa senhora começaram a sair da capela para a Igreja Matriz – atual Igreja São Benedito - que na época se chamava Nossa Senhora do Rosário.
            Com a morte do zelador, a igrejinha ficou esquecida e cada vez mais diminuía o número de fiéis frequentadores.
            Algum tempo depois, um senhor chamado João começou a zelar pela capelinha. Ele cuidou até ficar velhinho e morrer.
            Durante anos a igrejinha ficou de portas fechadas até que no bairro começaram a chegar novas famílias católicas. Os padres acreditaram que a comunidade São João se formaria novamente, pois, além da Matriz, era o único templo católico na região do Caeté e a população crescia. Era uma preocupação para o bispo e padres.
            A capela São João abriu suas portas e o povo voltou a frequentá-la. O bispo enviava padres uma vez por mês e as missas eram sempre lotadas.
            Com as suas atividades normais, os comunitários pagaram um zelador e sacristão. Era um neto do antigo zelador, Seu João. Ele, todas as noites dormia na igreja.
Nos primeiros dias, nada ouviu de estranho, mas, quando chegou à sexta-feira, logo depois da meia-noite, sons confusos ecoaram dentro da igrejinha.
            Assim que amanheceu o dia, ele comunicou o ocorrido à comunidade e alguns vizinhos se ofereceram para fazer-lhe companhia na próxima sexta-feira.
            Chegado o dia, os homens se reuniram e assim que escureceu, o grupo entrou no templo para pernoitar.
            Nessa noite, eles ouviram velas caindo, portas batendo e barulhos como se alguém mexesse em coisas na sacristia. Quando corriam para ver, não era nada. Tudo estava no mesmo lugar. Eles ficavam confusos e no dia seguinte comentavam com os populares.
            Na terceira sexta-feira do mês, não ouviram nada; mas, na quarta, eles decidiram dormir na sacristia para ver se viam ou ouviam algo. Porém, acabaram dormindo.
À meia-noite, um deles ouviu vozes, depois, um clarão dentro da igreja. Quando olhou, viu umas pessoas rezando como se estivessem numa ladainha no centro da capela. Ele achou estranho, pois, como aquelas pessoas tinham entrado se ele tinha a chave?
            Ele chamou os colegas que foram verificar o que estava acontecendo. Olharam pela porta da sacristia e viram gente rezando de cabeça baixa e o padre e os coroinhas seguravam velas, posicionados no altar da igrejinha.
            Observando aquelas pessoas, de repente os homens perceberam que os pés delas não tocavam o chão, como se flutuassem. Concluíram então que era gente morta.
            Quando olharam novamente para o padre, pegaram o maior susto ao perceber que ele era na verdade, uma caveira; e saíram dali gritando, apavorados.
            A história ficou muito falada no bairro, na cidade e em toda a região do Caeté.
            Apenas os moradores mais antigos sabem desse acontecimento.
A capela ficou desprezada e aos poucos se transformou em ruínas, que o tempo fez desaparecer.
            Essa história foi a minha tataravó que frequentava a igrejinha que contou para minha bisavó que era criança e chegou a ver a capela e por sua vez transmitiu para minha mãe que me contou e eu escrevi.


A MULHER DE BRANCO
Kátia Cilene Sousa da Silva


            Antigamente, quando ainda não existia televisão, as pessoas do interior costumavam dormir cedo por causa do cansaço do trabalho, mas, em dados momentos, quando ocorriam as festas de santos, alguns costumavam sair e retornavam tarde para suas casas.
            No percurso de volta, sempre se lembravam da mulher de branco que aparecia pelas estradas. Dizem até hoje que ela è muito linda e tem os cabelos longos. Aparece sempre debaixo de uma mangueira e os antigos diziam que ela é a guardiã de um imenso tesouro.
            Certo dia, numa comunidade que também acredita na lenda da mulher de branco, um morador saiu para uma festa que ia acontecer um pouco distante do sítio onde morava.
Antes de sair, a mãe, temerosa, lhe recomendou que não voltasse muito tarde porque tinha medo de que o filho se deparasse com a visagem. Mas ele sequer parou para ouvir os conselhos e saiu.
 Quando chegou à festa, encontrou-se com os amigos para uma noite de diversão. Enquanto isso, as horas foram passando e depois da meia-noite, aos poucos os amigos do rapaz foram saindo em respeito às recomendações de seus pais, mas, ele permaneceu até que ficou sozinho e resolveu também pegar o rumo de volta para sua casa.
            Enquanto retornava, o mistério da noite fez com que ele se lembrasse da visagem que todos comentavam e do que a mãe lhe recomendara.
            Quando se aproximou da mangueira de que todos falavam, um arrepio fez com que ele acelerasse as pedaladas na sua bicicleta. Mas, um instante depois, um vulto todo vestido de branco, embaixo da mangueira o fez titubear e quase cair.

Ficou olhando meio que paralisado enquanto a mulher também parecia olhá-lo calma e parada no seu lugar assombroso. Não dava para saber se era mesmo linda como diziam; o que imperou naquele momento foi o medo que fez com que ele montasse novamente na sua bicicleta e saísse na disparada sem olhar para trás.
            Assim que chegou em casa, assustado e trêmulo, a mãe já o esperava; preocupada e ansiosa. Ele então a abraçou e prometeu que não iria mais sair sozinho durante a noite. Porém, quando o dia amanheceu, o rapaz estava ardendo de febre e a mãe o levou a casa de uma benzedeira e depois de alguns dias doente, ele ficou bom, mas, nunca se esqueceu da experiência de ter visto a mulher de branco.

A MULHER DO SACO
Gabriele Rosa Sousa
Thaís Matos dos Santos
Renata Thaíse Gomes da Silva


            Por volta de 1996, em Bragança, na estrada do Monte Negro, Km 7, numa pequena vila chamada Igarapauca, uma criança começou a ver uma mulher estranha e apenas ele via por volta das 12 e 18hs. Era costume Alex vê-la todos os dias. Sua casa ficava bem em frente a um caminho onde todos transitavam; principalmente no horário do meio-dia, em que os trabalhadores retornavam para suas casas.
            Alex tinha o costume de brincar em frente a sua casa e passou a ver aquela mulher suja, de cabelos longos e desgrenhados, com um saco nas mãos.
            Todas às vezes que ela passava, chamava o menino que, assustado, corria para chamar a mãe.
            Maria, a mãe de Alex, assustada e preocupada com as visões do filho, tentava distraí-lo para que não tivesse medo e falava a ele para ficar bem longe da mulher do saco.
            Passaram-se dois dias depois da última visão e Alex adoeceu sem nenhum motivo. Cada vez mais a febre e a dor de cabeça iam piorando e a mãe resolveu levá-lo ao hospital. Os médicos fizeram alguns exames e não descobriram o que ele tinha.
 A única coisa que o menino pedia era para tomar água e se alimentava através de soro.
 A todo o momento dizia para sua mãe que não queria morrer, mas, depois do terceiro dia de internação, o menino morreu por volta de uma da manhã.
            Maria disse que a misteriosa mulher apareceu apenas para levar seu filho e a partir daquele dia, todas as crianças do vilarejo não mais tinham permissão para brincar ao meio- dia fora do espaço de sua casa por medo de que a mulher do saco aparecesse e as chamasse também.

A VISAGEM DA BICICLETA
Natália de Jesus

Era dia de finados. As pessoas que moravam numa vila afastada da Avenida principal, tinham que esperar o ônibus que passava pelo fim da tarde, para irem ao cemitério acender velas aos seus entes queridos.
            O cemitério ficava no meio da avenida que em dias normais não era muito movimentada, porém, todos os anos, nesse dia, o movimento era muito intenso e as pessoas que tinham seus veículos iam rapidinho, acendiam suas velas e retornavam para casa sem nenhum problema; mas, os moradores de bairros mais afastados que não tinham veículo, necessitavam de transporte público para se locomover.
Na pequena vila onde aconteceu o que vou contar, a maioria nas pessoas que lá moravam precisavam esperar o ônibus que naquele dia já levara muita gente de um cemitério para o outro, sempre lotado.
            Uns rapazes estavam perto da via pública conversando e observando o movimento enquanto esperavam a próxima condução, quando apareceu uma mulher montada numa bicicleta e perguntou:
            - Vocês querem ir comigo?
            E os meninos responderam um pouco assustados:
            - Não. Obrigado. Estamos aqui esperando o ônibus. – e a mulher foi embora.
            Logo em seguida, vem um senhor também de bicicleta. A impressão que deu era que a mulher viera apenas um pouco adiantada dele, o que fez com que os rapazes pedissem que o homem parasse para perguntar se ele havia visto aquela mulher. O velho, meio assustado, perguntou como quem não entende nada:
- Que mulher? Não tinha ninguém logo a minha frente. Passeio todos os dias por aqui de bicicleta e nunca vi nenhuma mulher pedalando. Até mesmo porque nessa comunidade quando as mulheres saem de bicicleta são levadas pelos seus maridos.
Nesse momento o ônibus apareceu e rapidamente os rapazes subiram e naquele dia, logo depois que chegaram do cemitério, foram direto para casa sem sequer cogitar a possibilidade de parar para uma prosa na beira da estrada como costumavam fazer.


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